
Bismillahi Ar-Rahmani Ar-Rahim é parte da primeira frase do Alcorão, e pode ser traduzida por diversas maneiras, a depender do tipo de visão do leitor ou tradutor.
A partícula BI tem diversos sentidos segundo dicionários e enciclopédias, tais como:
- através / por intermédio de
- por / para
- junto com
- com a ajuda de
e sempre indicando o que vem após: o Nome de Deus, gramaticalmente um substantivo próprio, declinado no caso Genitivo.
الرحمن
Ar-Rahman é o primeiro dos 99 Nomes de Allah; indicando que tem em si toda a misericórdia, a fonte primeira da Misericórdia Divina.
الرحيم
Ar-Rahim tem um significado mais sutil e preciso, onde a Misericórdia Divina é dispensada a todos os seres da Criação.
Assim, Ar-Rahman é o estado de atributo de Seu ser, enquanto Ar-Rahim é o estado de verbo, da ação direta sobre a Criação.
A raiz desses dois Belos Nomes é a mesma: ر ح م, a qual é a mesma de “útero” e “misericórdia”. Pensemos, então, sobre o profundo significado dessa raiz linguística, que coloca a grandiosidade da gestação e proteção infinita do ser em conjunto com a Misericórdia. A proteção ao ser gestado é total, sem reservas ou julgamentos, nutrindo-o permanentemente e com as substâncias mais preciosas filtradas do corpo da mãe. Uma dádiva feita de modo constante e automático, sem descanso, enquanto o ser se encontra em total acolhimento e uma confiança surgida pela sua própria evolução dentro do útero materno.
Não há alternativa ao ser gestado senão deixar-se envolver por essa benesse; o desvio ou rebelião contra esse estado surge conforme o entendimento do ser sobre si mesmo (sensciência) e a tomada de seu livre-arbítrio. Esta é, me parece a razão pela qual não se usa o termo “conversão” ao Islã, mas “reversão” – ao estado de bem-aventurança do embrião-feto-bebê dentro de sua mãe.
Portanto, as implicações metafísicas da evocação dessa frase tão imensamente plena de significados profundos, é igualmente grandiosa.
Considerando todos os significados da partícula BI juntos, poder-se-ia imaginar BISMILLAH como uma expressão semelhante a “envolto em”, como um manto miraculoso:
Colocando-me envolto na total proteção e aceitação por parte do Criador
Ou seja, de entrega total de si de forma mental, emocional e física, o real abandono de seu ego (nafs) e de todas as consequências de sua atuação na vida do ser. Isso significa igualmente que os seres da Criação que não são providos de livre-arbítrio estão imersos neste manto divino de proteção. E este é um dos ônus do livre-arbítrio: saber-se capaz desse ato voluntário de buscar essa proteção e estado de total desapego.
A meditação a ser feita sobre isso, então, é a imensa coragem necessária para conceber o abandono de si. O nosso ego clama por controle de situações, clama por aceitação e ordem que não são senão ilusórias. O abandono de si é um ato de fé, que traduz-se como coragem perante o Criador. Deste modo, a dita loucura atribuída a muitas pessoas, incluindo Djalāl ad-Dīn (Rumi), é somente a alegria, indizível em palavras humanas, do início de conexão com o Criador dos Universos e dos Tempos. O ato de colocar-se voluntariamente nesta situação é um avanço espiritual que devemos buscar incansavelmente até ns pequenas coisas e atitudes.
Portanto, somente essa frase, no meu entender, já poderia traduzir intrinsecamente a essência do Sagrado Corão e de todos os livros religiosos do mundo, em todas as eras.
Fontes:
https://wahiduddin.net/words/bismillah.htm
https://karkariya.fr/introduction-au-secret-de-la-basmala/
https://www.linfodumusulman.fr/bismillah-ar-rahman-ar-rahim-explication-de-la-basmala/
https://corpus.quran.com/wordbyword.jsp?chapter=1&verse=1
https://aboutislam.net/spirituality/4-verses-in-the-quran-to-talk-about-the-mothers-womb/
https://kalimah-center.com/particles-in-arabic/
ERLYA HAFIDZOTUL MASYKUROH, The English Translation Of Arabic Preposition Bi In Surah Yusuf By Abdullah Yusuf Ali; And By Muhammad Taqiudin Al-Hilali And Muhammad Muhsin Khan, Bachelor Degree in English Literature, English Department Faculty Of Adab And Cultural Sciences State Islamic University Sunan Kalijaga Yogyakarta, 2015.